quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Circo do Beijinho

A primeira vez que assisti a um espetáculo circense foi no bairro de Luiz Carlos. Naquele tempo, o vilarejo era bem agitado. No meio da praça, havia um chafariz e, no seu entorno, várias casinhas. Existiam lá dois comércios, um na esquina da esquerda, do Sr. José Rego, e outro na esquina da direita, do meu tio João Moreira. No armazém do meu tio havia um telefone comunitário em formato de caixa de madeira, com um fone preto preso a um fio e uma espécie de microfone. O usuário girava uma manivela e chamava a telefonista que, por sua vez, atendia e completava a ligação. Havia também uma Estação da Central do Brasil. Trens com destino a São Paulo e ao Rio de Janeiro faziam paradas lá. Nos fundos da praça, aparecia a capela de São Lourenço cujas festas eram muito famosas.

Luiz Carlos também foi cenário para alguns filmes, o que movimentava a vila. Um dos mais famosos foi o “Gregório 38”, do diretor Alex Prado. Meu tio Augusto apareceu no papel de médico, com o seu inseparável violão quadrado, fabricado por ele mesmo. O meu primo Antônio Carlos era o menino jornaleiro e a prima Cida também fez figuração.

O circo do palhaço Beijinho ficava instalado em uma rua ao lado da casa do meu tio, que era continuação do prédio do armazém. Esse circo não tinha animais e praticamente toda a família do Beijinho compunha a trupe. Os espetáculos, embora simples, eram muito emocionantes, principalmente para nós, pois não tínhamos muitas opções de entretenimento. Além dos trapezistas, do engolidor de fogo, do mágico, do homem das agulhas no corpo, a atração máxima ficava por conta do próprio Beijinho, com suas palhaçadas e bordões, “esquê, esquê, esquê Bernarda!!!”. Eu nunca soube o significado disso. Lá, apresentavam também peças de teatro, como “O Menino da Porteira”, “A Aparição de Nossa Senhora”, “Marcelino Pão e Vinho”, entre outras. Artistas como Milionário e Zé Rico, Barnabé, Zilo e Zalo, Zelão Pininha e Verinha também faziam suas aparições. Estes artistas já tinham algum sucesso no rádio, o que melhorava o resultado da bilheteria.

Um picadeiro central, todo forrado de pó de serra, arquibancadas laterais de madeira e três mastros que serviam para aparar a lona formavam a estrutura do circo. No aparador central, que saía para cima da lona, ficavam umas bandeirinhas coloridas. Os próprios artistas tomavam conta da arrecadação do caixa, sempre instalado na entrada.

O circo peregrinava pelos arredores das cidades grandes e também por lugares mais afastados, como, por exemplo, na Freguesia da Escada, onde era muito comum encontrá-lo. Lá nós assistíamos a quase todos os espetáculos. Meu pai me levava junto com meu primo Jorge para lá a fim de termos subsídios para nosso cirquinho. Este era apresentado em minha casa, num galpão fechado, usado para guardar os arreios da égua, ferramentas, alguns pequenos maquinários e ração. Ali nós montávamos o nosso espetáculo. A minha irmã Kika ficava na bilheteria e, antes de liberar a entrada, distribuia os dinheirinhos de brincadeira. Eu fazia a apresentação (não esquecendo de dizer “Respeitável público...”) e tinha vários outros papéis. O Laudenir ficava com a incumbência de trazer novidades da “Praça da Alegria”, do saudoso Manuel da Nóbrega, pois naquela época só esse meu primo tinha televisão. Encenávamos, então, “A Velha Surda”, “O Bronco”, “O Menino de Itú”, “Catifunda”, entre outros. Todos achavam muita graça e pediam outras apresentações. O público era formado pela Tia Rosa, Tia Odete, minha mãe Ruth, Tia Ana e elas iam divulgando o nosso circo e chamando outras pessoas para as demais sessões.

Além desses, inspirados no circo do Beijinho e na Praça da Alegria, nós criávamos outros tipos inéditos como o “Chiquitão” (parodiando o Tio Chiquito), o “Padre Italiano”, o “Velho Caipira” e outros. Havia também o show de mágica e todos fingiam não perceber os truques. Os personagens femininos ficavam sempre para o meu primo Jorge, pois era o mais gordinho, o que favorecia que ressaltássemos suas pernas em vestidos curtos, emprestados de minha irmã. Uma peruca de linha de seda para bordar meias completava o seu figurino. Algumas cordas penduradas no telhado fomavam o trapézio.

Há pouco tempo, assistindo a uma entrevista em um programa de televisão, tive grata satisfação ao saber que o palhaço Beijinho, nosso ídolo e inspirador, está muito bem de saúde, morando no interior de São Paulo e, para maior e mais agradável surpresa, descobri que ele é o pai da dupla sertaneja de muito sucesso Edson & Hudson, hoje cantores solos.

2 comentários:

  1. É caro primo Irmão, e dos grande.
    Eu viajo nessas historia.
    Mas teve um epsodio do circo que nos montamos a peça. "O chiquitão Vai ser Prefeito de Guararema" e o ator principal foi nosso primo Jorge.
    Nos nos devertiamos muito naquele pedaço de chão.
    E se vc for escrever todas as nossas aventura, vai dar um senhor livro.
    Vá em frente, que nos vamos junto nas lebranças
    Beijão do seu primo mano
    Laudenir

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  2. Estas histórias do Circo são sempre lembrandas, acomapanhadas de muitas gargalhadas!!!!
    Nossa Primo to curtindo muito seu blog!!!!!!

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