quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A caça ao tatu

Quando eu trabalhava no armazém, as tardes eram bem tranqüilas, pois o período de maior movimento dava-se na parte da manhã e ao anoitecer. Tínhamos o hábito de ficar sentados no banco do ponto de ônibus. Ali conversávamos sobre os acontecimentos e sempre com a presença de alguém que aguardava a chegada dos ônibus da Santa Maria Viação, com destino a Jacareí ou Mogi das Cruzes. Quase todos os caminhões que trafegavam na via davam uma buzinadinha e um aceno para nós. O meu pai conhecia grande parte dos caminhoneiros que por ali passavam, pois sempre paravam para um lanche, um refrigerante ou até mesmo uma caninha de alambique no fim do expediente. Bem pertinho dali, havia o Alambique do Salto, do Lico Freire, e a sua caninha era da melhor qualidade, destilada artesanalmente. Todos os apreciadores de uma boa aguardente elogiavam a sua qualidade.

A casinha do ponto de ônibus era coberta de telhas tipo francesa e abrigava um banco de cimento. Ao seu lado, havia um barranco com cerca de bambu, bem aparelhado, para impedir que estranhos adentrassem no quintal da casa dos meus avós. Acima do barranco, existia um pé de mexerica que de abril a agosto ficava carregada de frutos bem amarelinhos e muito doces.

Do outro lado da pista, ficava o armazém. Quando chegava algum freguês era só atravessar a rodovia para o devido atendimento.
Num final de tarde, estávamos eu, meu pai e meu primo Jorge, quando algo começou a se mexer, próximo a uma moita, junto ao barranco. Percebemos que havia algum bicho ali. O meu primo, que gostava muito de pescar e caçar, pediu para que ficássemos quietos para que fosse verificar de perto o que havia ali. Foi quando ele percebeu a presença de um tatu. Providenciou uma taquara retirada da cerca e saiu na captura do bichinho, que fugiu em disparada para entrar em uma toca no pé do barranco. Os tatus, para fazerem as suas tocas, cavam túneis muito profundos na terra mole. É na toca que passa a maior parte do dia e ela é tão grande que podem morar lá vários deles. Saem dela para pequenos passeios perto do entardecer.

O meu pai, achando que não se deveria matar e nem machucar o bichinho, foi tentar agarrá-lo com as mãos para levá-lo à sua toca, já que o tatu, quando é apanhado pelas costas e virado de barriga para cima, perde totalmente as forças e fica quietinho.

O meu primo Jorge, que em certas situações ficava meio afobado, não parava de dar taquaradas em direção ao tatu para tentar imobiliza-lo. O problema é que não encontrava o alvo e pelo menos umas três vezes acertou em cheio as mãos de meu pai.
Ele, normalmente, era muito calmo e sempre evitava gritar com as crianças. Porém, nesse momento, esbravejou:

- Pára com isso seu moleque! Está a fim de quebrar a minha mão?

Nisso o tatu, que de bobo não tinha nada, rapidamente saiu em disparada, foi beirando o barranco até sair num capão de mato e sumir no meio do brejo. 10 x 0 para o tatu!

Foi muito divertido o meu pai com a mão toda dolorida e o Jorge tentando pedir desculpas pelo ocorrido. Até hoje rimos muito quando relembramos dessa inusitada “caçada”.

5 comentários:

  1. Noooossa dorei.Me senti na estória,Vou contar para meus netos.Muito boa.

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  2. Pai, as histórias estão cada vez melhor!!!!

    O Lorenzo adora ouvi-las.

    Parabéns!!!!!

    Beijos

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  3. Q sorte teve o Tatu do Jorge ter uma pésssima pontaria e tadinho do tio!!!!!!

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  4. Haha! Sempre mt divertidas as histórias!

    Abraço, João!

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  5. Foi dai que surgiu o apelido de "Tatu do Jorge"?
    Essa eu não Sabia!
    kkkk......

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